sexta-feira, 11 de julho de 2025

 


309

 

cada vez que um de nós

morre

 

dançamos

 

dançamos sobre

a mesa

 

a festa acaba

acabam os foguetes

 

os convivas des

pedem-se

 

a vida desmorona-se

como numa canção

desafinada

 

e então

lembram-se os retratos

e as palavras do costume

 

pêsames dor e falta

 

e dançamos

sobre a mesa

terça-feira, 8 de julho de 2025

 


315

 

por cada vida

que nunca foi

a nossa

 

embora

por nós sofrida

 

ouvi-nos senhor

 

a mão aberta

o coração rôto

por quem nos chamou

e por quem nos disse

 

ouvi-nos senhor

 

e que ainda

não seja tarde

nem agora ou nunca

 

em que as crianças brincam

nas sombras do verão

 

ouvi-as senhor

segunda-feira, 7 de julho de 2025

 


312

 

ouvi a nós senhor

 

que nada queremos

do teu poder mais

que muito

 

desviados somos

das palavras e gestos

que dizem ser os teus

 

pecadores

com uns e outros

que somos nós

 

e nunca com as tuas coisas

que não tens

 

tu não existes

tu não existes

 

e se tu não existes

 

não é

por nossa culpa

 

que nós somos pobres

e apenas pobres

 

de uma pobreza

que ainda não tem nome