quarta-feira, 13 de novembro de 2024

 


um poeta (ou talvez Deus) dirige-se a ti

 

 

 

agora já conheces a verdade

 

pois eu não sou o ar que respiras

mas o teu próprio respirar

 

e no caminho que buscas

eu sou o teu chão os teus pés

o próprio caminho sou e a tua busca

 

procuras e o que procuras sou

 

o teu corpo a tua sombra

a tua alma sou

e a areia da praia a chuva

as tuas lágrimas sou também

 

acreditas e sou o que acreditas

 

outros viram os teus olhos

mas nenhum outro é o teu olhar

 

outros quiseram dar-te claridade

mas nenhum outro é a própria luz

 

outros quiseram dar-te água

mas apenas eu sou a sede e a água

corpo asas e voo

num só pássaro reunidos

 

com outros cantaste

mas só eu sou a tua voz

 

cantas e quando cantas é em mim

 

e não podes magoar-me

sem que te magoes também

não podes fugir-me

sem que fujas de ti

vê se entendes:

sou a tua prisão e a tua liberdade

e uma pedra que ergas contra mim

é inútil: eu sou a pedra e o gesto

 

todo o teu corpo em plenitude

 

e não tentes combater-me

pois estou rendido no teu coração

 

em verdade te digo que vim para ficar

pois sou aquele que é em ti

sem esforço sem força sem limites

 

apenas porque sou