um poeta (ou talvez Deus) dirige-se a ti
agora já conheces a verdade
pois eu não sou o ar que respiras
mas o teu próprio respirar
e no caminho que buscas
eu sou o teu chão os teus pés
o próprio caminho sou e a tua busca
procuras e o que procuras sou
o teu corpo a tua sombra
a tua alma sou
e a areia da praia a chuva
as tuas lágrimas sou também
acreditas e sou o que acreditas
outros viram os teus olhos
mas nenhum outro é o teu olhar
outros quiseram dar-te claridade
mas nenhum outro é a própria luz
outros quiseram dar-te água
mas apenas eu sou a sede e a água
corpo asas e voo
num só pássaro reunidos
com outros cantaste
mas só eu sou a tua voz
cantas e quando cantas é em mim
e não podes magoar-me
sem que te magoes também
não podes fugir-me
sem que fujas de ti
vê se entendes:
sou a tua prisão e a tua liberdade
e uma pedra que ergas contra mim
é inútil: eu sou a pedra e o gesto
todo o teu corpo em plenitude
e não tentes combater-me
pois estou rendido no teu coração
em verdade te digo que vim para ficar
pois sou aquele que é em ti
sem esforço sem força sem limites
apenas porque sou