nos meus poemas não há figuras de estilo. o
que há é coisas que são outra coisa. só que esta semântica não é um truque de
semântica. é porque o mundo é sempre uma outra coisa. eu cresci a ver nas
palavras o que elas são de outra coisa. há quem julgue que as palavras
descrevem as coisas do mundo, mas eu vi na água que tudo se move noutra coisa,
e assim as palavras são as coisas. e numa palavra cabe tudo, e tudo é uma coisa
que se abre em muitas outras coisas,
e por isso quero dizer-te, creio que chegou a
altura de dizer-te, de dar-te disto testemunho: todas as palavras são
igualmente sinais de uma ética, que é o caminho que fazes para te tornares melhor.
e não, não há qualquer castigo caso o não faças. e não há qualquer deus que te
castigue. mais que tudo há a beleza de te tornares no rosto da própria coisa
sei que é difícil, mas aceita a desimportância
e alcança-te. desimporta-te e aceita a beleza da rosa que canta. ela alimenta
cada coisa de si própria. ela é o bem que todas as palavras querem dizer. e
todavia nada te impõe. dou-te disto testemunho: o bem é a medida do amor no
outro
e
repara como tudo está ligado:
o caminho do bem é a ética do poema, e o poema é a palavra que diz o
mundo