domingo, 25 de agosto de 2024

 

nos meus poemas não há figuras de estilo. o que há é coisas que são outra coisa. só que esta semântica não é um truque de semântica. é porque o mundo é sempre uma outra coisa. eu cresci a ver nas palavras o que elas são de outra coisa. há quem julgue que as palavras descrevem as coisas do mundo, mas eu vi na água que tudo se move noutra coisa, e assim as palavras são as coisas. e numa palavra cabe tudo, e tudo é uma coisa que se abre em muitas outras coisas,

e por isso quero dizer-te, creio que chegou a altura de dizer-te, de dar-te disto testemunho: todas as palavras são igualmente sinais de uma ética, que é o caminho que fazes para te tornares melhor. e não, não há qualquer castigo caso o não faças. e não há qualquer deus que te castigue. mais que tudo há a beleza de te tornares no rosto da própria coisa

 

sei que é difícil, mas aceita a desimportância e alcança-te. desimporta-te e aceita a beleza da rosa que canta. ela alimenta cada coisa de si própria. ela é o bem que todas as palavras querem dizer. e todavia nada te impõe. dou-te disto testemunho: o bem é a medida do amor no outro

 

               e  repara como tudo está ligado:

 

                o caminho do bem é a ética do poema, e o poema é a palavra que diz o mundo