Sim, existe uma crise do homem. a crise entre ter e existir. a crise entre a parte visível, o lado de fora, e a verdade intrínseca que encharca a existência e define uma verdade-antes-de-todas. Uma crise entre o que alguns chamam materialismo científico, a base do sucesso civilizacional ao nível do bem-estar, que caracteriza as sociedades actuais e define o que chamamos realidade.
Entre esta e a existência, que é subjectiva, e espiritualmente sentida. Falamos do que vemos e na inevitabilidade do mundo definido como matéria. Este é o mundo em que se movem os poderes do domínio sobre os outros, das guerras, da geopolítica, da exploração, do saque, da destruição. O nosso mundo está á beira da catástrofe também por isto. Pela incapacidade em percebermos que a consciência, o que chamo o espírito do mundo, é a verdade intrínseca a toda a matéria, ao que insistimos chamar realidade..
Consciência é o que o mundo é. Refiro-me ao universo, ao cosmos, ao mundo. Uma cadeira é matéria, mas consciência é o que há muito deixámos de ver nela. Consciência é a raiz da água, do melro, e de cada pessoa também. Não damos conta de que se move em tudo e em cada coisa. A ciência foi e é eficaz a descrever o que as coisas (a matéria) fazem, a controlar e prever o seu comportamento. Mas dizer que a água é H2O não diz o que a água é: descreve-a a um nível mais abaixo. Levado ao extremo, o mundo criado por esta mundivisão é solitário, deserto, esvaziado de sentido. É um mundo frio.
Por isso é necessário regressar a casa, à consciência, à beleza da existência com sentido. À ética do bem. E nas suas várias intensidades nós, humanos, só este podemos escolher. Escolher o caminho do bem é seguir a direcção do lugar mais alto. A verdade do espírito que caminha.
os anjos não têm asas
mas o meu coração tem duas asas
poema
as minhas avós e a minha tia-avó/
viveram num tempo que tudo lhes pediu//
e às vezes tinham dias/
mas era à noite/
que tudo se repetia//
como se fosse uma sorte/
uma vingança uma maldição/
ou então uma espécie/
de coisa muito/
forte/
que acontecia