terça-feira, 1 de julho de 2008

Foi morta gente durante todo o verão.
Os seus corpos encheram-se de rosas
e ervas

e floriram depois
entre os cogumelos.

Veio o outono com as sombras
e as mãos dos mortos misturaram-se no chão
com as folhas húmidas das árvores.
Veio o inverno. Veio a chuva sobre a terra
seca, veio o vento frio, molhado ainda do mar,
veio a lama e entrou pelos olhos dos mortos

que já não tinham palavras nem nada para ver;
veio o dia e a noite

e floriram
algumas pequenas flores
quando já era primavera; e então as ruas encheram-se
de minúsculas ervas verdes entre as pedras da calçada,
líquenes nos muros, nenúfares nos lagos. E nada
mudou no hábito das aves.

E assim tem sido sempre também:

todos os anos
se repetem os mortos

e as mesmas rosas secas.

(Poema escrito em 2001. Inédito)