segunda-feira, 26 de maio de 2008

e tu descias devagar na água
para que não se apagasse a luz

percorrendo as ruas de uma cidade
que não existe

abrindo as flores
de um tempo apenas imaginado.

mas isso que importa
se tu eras a chuva

e minha era a mão
que escreveu os poemas

do teu livro de cabeceira

domingo, 25 de maio de 2008

estas coisas me deixas

um pouco de água
onde há luz e chuva
como nos países das rosas

e devia falar-te dos pássaros

da tua mão iluminada
que jamais tocou
para além das laranjas

onde vi crescer as tuas asas

quinta-feira, 22 de maio de 2008

e as pessoas perguntam-me
como posso amar-te tanto

e eu não sei.

desde há dias
que vivo iluminado

por esta ignorância feliz

segunda-feira, 19 de maio de 2008

o amor autêntico
prescinde de cartas

bastam-lhe
os frágeis sinais na água

ou os gestos iluminados dos pássaros
quando passam

na cálida luz intacta

sábado, 17 de maio de 2008

deixo aqui esta flor

para que possa crescer
num lugar do teu quintal

e amanhã a encontres
coberta de sinais de chuva

e marcas desta mão

quinta-feira, 15 de maio de 2008

senhor

livrai-nos dos políticos
e das suas mãos escuras

e dai-nos força e paciência
e o dom da espera sem exagerar

e permiti que a nossa ignorância
não nos encha de orgulho
e cegue nos momentos de exaltação

e não nos deixeis cair na tentação
de os levar aos nossos ombros
ou acenar com bandeirinhas

senhor

livrai-nos dos políticos
pois a nós falta coragem

quarta-feira, 14 de maio de 2008

esta noite irei caminhar
sobre as águas deste rio
e tu perguntas
mas não é difícil caminhar sobre
a água?

mais difícil é ser feliz
sento-me a imaginar
como será a cidade onde vives

o cheiro das ruas por onde passas
em que árvores pousam os teus pássaros

ou que língua falam as tuas crianças
e de que anjos contas estórias

quando vão adormecer.

que rastos deixarias tu na areia

caso existisses

domingo, 11 de maio de 2008

tudo em ti é luz e água

e por isso ao caminhares
levas contigo um arco-íris

e as árvores movem-se
as ruas movem-se

tudo se move à tua volta
quando choves

terça-feira, 6 de maio de 2008

como puede la luz
parecerse tanto a ti

y despues hay las naranjas
donde tocan tus manos iluminadas
inaugurando en el mundo un misterio

que solo las aves presienten

y pregunto como puedes tu ser
un árbol tan fecundo
y de tus hojas agua y rosas

y te pareces tanto con la lluvia

sábado, 3 de maio de 2008

e este é o meu segredo

e nele amar-te como se fosses água
e seres de mim a sede
e o lugar onde tudo falta

e trazer-te como se fosses nada
ou talvez uma palavra impossível


uma flor plantada no coração

e ser a tua formiga a tua árvore

e deitar-me nas tuas mãos
como se fosses Deus

sexta-feira, 2 de maio de 2008


há um mistério em ti
que não entendo

e nele os pássaros movem-se
como rosas em silêncio

e há dias
em que as horas não passam
e são barcos presos na areia

e outros
em que as noites têm estrelas
que as minhas mãos quase
podem agarrar

ou talvez sejam as tuas asas
quando passas

deixando sinais na água