uma vez perguntaram ao poeta clandestino para que servem os poemas. e ele respondeu:
para o mesmo que uma estrela ou o sol. as pessoas muito entendidas em literatura julgam que neles se expressam motivações e princípios. mas todos os poemas são evidência da ausência do seu criador. em cada poema o poeta salva-se de uma existência mesquinha. para que haveria de repetir-se? um poema é a ausência do poeta, tal como o mundo é a ausência de Deus.
e perguntaram-lhe, a terminar: e se um dia a poesia acabar?
já acabou. no mundo das aparências o que existe é o mundo frívolo da poesia com literatura. ainda bem que acabou.
mas tu não és poeta?
clandestino
os anjos não têm asas
mas o meu coração tem duas asas
poema
as minhas avós e a minha tia-avó/
viveram num tempo que tudo lhes pediu//
e às vezes tinham dias/
mas era à noite/
que tudo se repetia//
como se fosse uma sorte/
uma vingança uma maldição/
ou então uma espécie/
de coisa muito/
forte/
que acontecia