quinta-feira, 31 de outubro de 2024

 


fiz um desenho

muito engraçado

 

o jakie e eu

junto à casa inclina

da

 

eu faço adeus

para fora do desenho

 

rio-me

 

olá

mundo a fingir

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

 


242

 

tu não podes

ver-me

 

tu és importante

e eu sou muito

pobre

 

tu escreves em

jornais

 

eu escrevo poemas

na casa inclinada

 

tu já não

me ouves cantar

 

e eu ainda agora

comecei a

cantar

 


240

 

hei de recusar sempre

quem não me fala

dos desertos

 

esses que nunca se

perderam em ruas

que eram

suas

terça-feira, 29 de outubro de 2024

 


241

 

bem aventurados

os que acreditam

 

e bem aventurados

os que não acreditam

 

pois grande será

a surpresa de

ambos

 

olá

mundo a fingir

 


perguntas

quem caminha comigo

 

e eu respondo

eu digo

 

são os meus

amores

 

que amores

perguntas tu

 

quem me enche

o coração

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

 


vou cair devagar

no teu coração

 

e não vais dar

por nada

 

não custa

não dói

 

não caminhas

 


estou aqui

a contemplar o mundo

 

e nenhuma porta

se abre

 

nenhuma estrada

para ver o longe

 

não parti

nem cheguei

de uma viagem

 

não sinto o vento

nem movo as mãos

 

tenho o coração

ocupado

 


e o poeta disse

 

toma-me nesta água

e dá-me de beber

ao mundo

 

escrever poemas é uma experiência espiritual. não é uma experiência estética, artística ou literária. existem as palavras, é verdade. e o que são as palavras senão a revelação em nós do infinito? não consigo dizê-lo de outra maneira: os meus poemas são o que me transporta muito para lá daquilo que sou. e neles habita tudo o que amo e me dói, planos indistintos de uma manifestação profunda na minha existência pessoal. às vezes também lhe chamo o toque de Deus. hão de haver mais verdades no mundo, creio. mas nada pode comparar-se à grandeza do que me falta

 


toca-lhe o coração

 

a esse

o teu irmão

o teu estranho

 

a outra mão

a outra cor

 

esse

que é de ti

o que não podes

 

anda

deixa as comparações

 

inclina-te

domingo, 27 de outubro de 2024

 


em teoria da literatura

 

um metapoema

é um morto que

reflecte

 

sobre a morte

 

no final

vomitam todos

 

os vivos

e os mortos

 


não te enerves

 

toma um tempo

 

inclina-te

no teu coração

 

dá a cada uma

das tuas mãos

uma parte do verão

e outra do inverno

 

deixa

crescer a erva

 


como hoje é

domingo

 

hoje não mataremos

 

podemos esperar

que chova

 

já que é domingo

de outono

 

as notícias do planeta

é que não são boas

 

muita dor ainda

 

as guerras e as refinadas

formas de matar

 

hoje é domingo

eu sei

 

e amanhã é já

segunda-feira

 


 

inclina-te erva

 

entrega

o teu coração

ao vento

 

faz-te

e desfaz-te

em cada dia

sábado, 26 de outubro de 2024

 


se não podes

escrever na água

 

escuta

se não te inclinas

na água

 

se não consegues ver

através da água

 

a que chamas tu

poemas

 


venho ver-te

aqui

 

na cana

que sobe até

ao céu

 

na raiz do poejo

na folha de malva

 

na coroa-de-monge

 

porque é no caule

 

é no caule

e na raiz

 

que tu estás

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

 


239

 

ouvi-te cantar

 

pássaro da terra

de ninguém

 

desenhei-te na

água

 


238


os pobres

foram ajudados por

robin hood

 

os injustiçados tiveram

batman e outros justiceiros

como mandrake

 

ou tarzan que defendeu

igualmente outros animais

 

os fracos os indefesos

foram protegidos pelo fantasma

e pelo homem aranha

 

cisco kid

que era um romântico

vive agora num lar de idosos

 

já jesus cristo

fez-se crucificar e até hoje

não salvou ninguém

 

olá

terra do nunca

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

 


237

 

no ano 1956

nasci numa cruz

 

e alguém disse

 

de que lado queres

olhar o mundo

 

tanto faz

já vi do que se trata

 

mata-me depressa

 


236


caros amigos

 

gostei de vos conhecer

 

muito antes de nascer

foi-me dito que

estava morto

 

era assim o grande

desgosto de minha

mãe

 

um filho que já

nascera morto

 

e a minha mãe que

falava com Deus

perguntou-lhe

 

que se passa contigo

 

que matas todos

os nossos filhos

 


63

 

sentei-me com

uma formiga

 

perto das nuvens

perto da lua

 

e Deus veio e

disse

 

pronunciai

me

 


chove

 

e a chuva

transforma-se

na coisa amada

 

no grilo

e na folha da árvore

 

na couve na cenoura

e no pintarroxo

 

na chegada do outono

aos rios e às casas

 

no bebé que chora

e no velho que pinta estrelas

no coração

 

chove

e a erva inclina-se

 


uma erva inclina-se

para a noite

 

para onde

te inclinas tu?

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

 


148

 

primeiro

aprendemos a voar

 

é quando somos

crianças

 

depois dão-nos

sapatos e só conhece

mos o chão

de onde vemos

tudo a direito

 

as nuvens as casas

e até o sol

 

já no fim

subimos a um lugar muito

alto de onde abrimos

os braços e voamos

 

é quando morremos

 


137

 

já pensei enviar os meus poemas do homem azul a um crítico de poesia. mas ele dir-me-ia que nos poemas da literatura não se fala de um homem azul ou de um pássaro de papel. que são metáforas muito pobres e que ninguém as entende. seria talvez inútil explicar-lhe: o homem azul ou o pássaro de papel não são metáforas. metáforas são os da literatura

 


123

 

as palavras

criam tudo

 

até a ausência

 

e depois tu

perguntas

 

e Deus

 

Deus é

a ausência in

finita

 


se hoje

te encontrar

 

se hoje fores

tudo quanto tive

em chuva amor e ódio

 

e mais que verdade

ou evidência

 

do mundo fores

simplesmente tu

 

o caminho do bem

terça-feira, 22 de outubro de 2024

 


234

 

já me disseram

que nada de novo há

nos meus poemas

 

mas que posso

eu fazer

 

se ele toca piano

 

e eu vestido

de anjo

 


233

 

os poucos amigos

que tenho

 

convido para o meu

quarto de ouvir

música

 

sentados no chão

de mãos abertas

no coração

 

enquanto

ele toca piano

 

e eu rodopio

vestido de anjo