75
todas as manhãs
há incêndios
o que não há
é um lugar onde
possas
esconder-te
ou talvez haja
e ser-te-á
exigido
que comas
a tua
própria culpa
um
dia perguntaram ao poeta clandestino para que servem os poemas. e ele
respondeu:
para o mesmo que uma estrela ou o sol.
as pessoas muito entendidas em literatura julgam que neles se expressam
motivações e princípios. mas todos os poemas são evidência da ausência do seu
criador. em cada poema o poeta salva-se de uma existência mesquinha. para que
haveria de repetir-se? um poema é a ausência do poeta, tal como o mundo é
a ausência de Deus.
e
perguntaram-lhe, a terminar: e se um dia a poesia acabar?
já acabou. no mundo das aparências o
que existe é o mundo frívolo da poesia com literatura. ainda bem que acabou.
mas
tu não és poeta?
clandestino