quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

a rosa

durante anos
envelhecemos desalmadamente.
fizemos o possível
para que tempo frio e terra
sobre nós viessem em derrocadas

tínhamos pressa
e a cada dia acrescentámos
correrias e becos sem saída.

nem todos chegámos aqui

houve quem na pressa
tenha tropeçado numa coisa estranha
alguns desistiram
alguns quiseram ser como as árvores

outros como eu

cedo demais souberam
o nome da rosa

sábado, 24 de fevereiro de 2007

naqueles dias frios
em que nada se move no mundo

só uma chuva muito fina
a esconder as ruas
e estas mãos tão próximas

porque acredito em ti
e nas árvores

e encontro os teus passos
onde o meu coração dorme

porque tudo no mundo
me fala de ti

e então acredito
que por alguma coisa grande
estamos aqui

sábado, 17 de fevereiro de 2007

a morte é tão natural
e as flores nas janelas
falam de nós

asas de pássaros

domingo, 11 de fevereiro de 2007

ao antónio bernardo

soube que mudaste de rua
e desde então tudo mudou neste lado

as árvores e as plantas estão a florir
outra vez
os animais descansam nas sombras
os homens fingem existir
as mulheres abraçam os filhos
num sono desigual.

e em tudo isto existe
uma espécie de alegria

sábado, 3 de fevereiro de 2007

quando fizeste o mundo
acreditei que estarias nele para sempre

o teu ar pesado
muito cedo envelhecido
enquanto as rosas cresciam

e o modo como sem saberes
me aprendeste
que a nossa vida não é daqui

e como a dor é uma coisa natural
em cujos nomes esquecemos casas e desertos

e nos sentamos um dia à espera
esperando sempre que nunca aconteça mal
a quem amamos

apesar de sabermos todos
que nada fica neste lado
senão a doce alegria de termos um dia sido
um milagre uma voz

uma vida
que ninguém podia fazer por nós